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Quando deitado, calado e mudo - da lente do verbo guardado, dentro do cubo do crânio - vejo tudo torto e quadrado.

segunda-feira, março 26, 2007

Curtos e Sujos



Eu tenho razão
Maria é puta. João é cagão; mas nem todos pensam assim. João, por exemplo, acha que não. Maria, por sua vez, sabe que eu tenho razão. Um dia ela chupou o pau dele de maneira diferente, com mais carinho e atenção. Ele sentiu que a partir daquele dia, tudo ia ser diferente. Subiu a calça, pagou... E nunca mais voltou.

No Prato
Neco, bicha pobre, duro como o pau sonhado, com o cu em flor, entra lordemente no bar. Pede o de sempre; um pratinho qualquer, barato, mas decorado com tomates-cereja e uma folhinha de alface verde bem clarinha. Tudo bem certinho. Mas eis que num redepente furacão, adentra subitamente a peituda da Norminha e, sem meias palavras, debruça-se à mesa do boneco, e em lágrimas despeja um amontoado de frustradas trepadas. Neco, puto da vida mas num gesto elegante, sem sair do seu recato, chama:
- Garçom, a conta por favor, caiu uma puta no meu prato!

Taco a Taco
Na sinuca, imbatível era o Caco. Pra ele não tinha taco torto nem caçapa cabaçuda, entrava com bola e tudo, era duro, mandava um bolão. Mas, na cama dele, com a Tereca, o campeão era o Telinho.

O amor é tato
A bunda da Juracy era um escândalo, deformada, desproporcional, horrível – perfeita. Era pesada, mil olhos grudados todos os dias ela carregava. Todos esperavam uma tragédia, perigava por força daquela barra, despencar. Até que um dia, Amarildo – o ceguinho da Lotérica, com muito tato apenas, escondeu em seu barraco aquele prêmio, mais cobiçado que a Mega-Sena.

Só por ti
- Nem vem que não tem! Fala escaldada a dona do bar - a Juracy, furiosa com o Amauri. – Tu vens bêbado de outro boteco, sem um puto no bolso, pra babar aqui!
Amauri, caidaço, sem nexo, tasca sem perder a deixa:
- Beber... eu bebo com qualquer um... agora, babar... só por ti Juracy.
E tomba de cabeça sobre a mesa. E sob a sombra do chapéu de feltro surrado, escorre um rastro de baba gosmenta. Juracy delicadamente limpa aqueles lábios adormecidos e pé-por-pé, apaga a luz, mas só a daquela mesa.

Era...
Era uma puta pra lá de usada, adorava um retoço, rebolava entre as mesas num trote meio agalopado; da indumentária mínima saltava carne pra todos os lados, era um daqueles casos em que o pouco é demais; uma vadia e tanto: sincera demais, autoconfiante demais, velha demais e muito, mas muito espaçosa – um caso claro onde o muito é muito pouco. Uma vagabunda que vivia sem pedir licença, com uma alegria vulgar, irritante e uma tal intimidade na vida que chegava a ser obscena, intolerável. Um dia ela não apareceu, nem no outro, nem depois, sumiu pra sempre sem deixar vestígios.
Que saudades daquela mulher...

Quase
Fred não foi nem voltou, ficou ali, parado, com aquela cara de salame que ele fazia quando dava cagada. Cleusa, acostumada, tirou ele de cima com nojo, se virou e foi dormir. O macho ficou ali, de olho aberto, todo melecado.

Tudo certo
Não tem como dar errado, somos feitos um para o outro, um bêbado e uma vadia, um deprimido e uma histérica, um branco e uma negra, uma inteligência e uma simpatia, um desempregado do dia e uma trabalhadora da noite. Eu preencho de dúvidas o vazio da tua existência, os buracos do teu sexo, a tua boca com a minha língua; eu esvazio a tua carteira, roubo a tua alma e libero o teu corpo, eu tiro o que não tens, te dou o que não precisas e calo a tua voz com o meu olho, e quando te bato, estou apenas marcando na tua carne o meu pavor, o medo de enxergar o que perdi, o que não possuo mais – o teu desejo, o teu tesão, o teu grito de prazer dolorido, o teu gemido.
Não tem mais como dar errado, seremos um só novamente. Estávamos mortos, não era vida, era o espelho torto dela, era morte em vida, era mentira... Mas agora és livre, eu te libertei dela, as minhas mãos na tua garganta te devolveram a dignidade, te deram um novo horizonte, estanquei esse fluxo de ar asfixiante, enganador, impedi que ele continuasse invadindo o teu corpo que é meu, te levando vontades por outros homens; só agora podes, à distância, entender o meu amor por ti, eu sou o teu ar; eu sou tudo o que és e só o que tens. Eu sou finalmente o teu homem e o teu deus, porque te dei a vida, enquanto continuo atravessando a morte. Nada mais vai dar errado.

8 comentários:

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Pena meu amigo, faz tempo que não te visito, mas prometo ser agora mais presente. Gostei do teu texto, inteligente, meio escrachado, mas adorei mesmo. Por favor não desaparece. Se tiver tempo vai dar uma olhadinha nas minhas postagens.Um abraço martha

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Nossa Pena ,que texto bom, na verdade ótimo, adorei ler.[pausa para minha alma descansar]. Hoje fiz uma postagem nova, que se tiveres tempo espero que passe lá. Um beijo

fadazul disse...

HUMMMMMMMMMMM, bem falar o que?
é como um vento erguendo minhas saias repentinamente, rosando minhas faces, enquanto luto para não deixar qu apareçam minhas partes mais intimas...
è esse seu objetivo? "erguer saias
em favor do vento?" conseguiste meu amigo! palmas pra ti, achei surpreendente, gostei, bjks

Gérson Lattuada disse...

"Caiu uma puta no meu prato." Nunca mais esquecerei dessa passagem. E de outras poucas e boas como essa. Todas tuas. Parabéns Pena! Abraço.

Ana Dos Santos disse...

Adoro erotismo e coisas do gênero
te enviarei uns "curtos e sujos"
continua!
Ana

R. M. Peteffi disse...

os dois primeiros, impagáveis..

abrasss

Eduardo Simch disse...

Muito bom!
Simch

Anônimo disse...

Lorde Pena, só por ti - o "ti" no plural. Quantas vezes a gente não faz isso pelos outros e quantas vezes os outros não fazem isso pela gente? E, as vezes ainda colocam um cobertor nas costas da gente...
Grande Pena.
Abs.
Lanca.